Economista formada com láurea acadêmica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sendo reconhecida com o prêmio de Melhor Desempenho no Curso pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (CORECON/RS). Patricia é mestre e doutora em economia aplicada pela mesma universidade. Foi duas vezes prêmiada “Jovem Pesquisador UFRGS/CNPq” na área de sociais aplicadas.
A seguir, a entrevista exclusiva realizada com a Economista-Chefe do sistema Fecomércio RS, Patricia Palermo:
Como foi a escolha de sua profissão? Houve o apoio da família?
Eu fazia o curso de Farmácia na UFRGS. Era boa aluna, não faltava às aulas, tirava sempre notas boas. Entretanto, com o passar do tempo, ficou claro para mim que uma profissão precisava mais do que aquilo. Precisava de paixão, de brilho no olho. Desistir do curso de Farmácia foi ao mesmo tempo um alívio libertador e um período de grande medo e apreensão. Sabia claramente que aquela não era a profissão que eu queria para mim, mas qual eu queria? Eu ainda não sabia… Sabia que eu gostava de matemática, me interessava muito por política e me sentia muito mal por não entender grande parte dos noticiários.
Foi assim que começou meu interesse pela Economia. Num dia, pela manhã, enquanto eu esperava o ônibus para ir ao campus assistir minhas últimas aulas no curso de Farmácia, conversei com um amigo que me contou, de forma muito, entusiasmada sobre uma palestra que tinha assistido sobre “Economia da Pobreza”. Pronto! Era o que faltava para eu me decidir. Numa viagem de ônibus de meia hora, juntei todos os argumentos que me faltavam para tomar minha decisão. No dia seguinte tranquei minha matrícula e fui buscar informações sobre o curso de Economia. Quanto mais eu conhecia, mais eu me encantava. O brilho no olho já estava de volta!
Como sou a primeira geração da minha família a ir para a Universidade não sofri muita pressão. Meu pai queria que eu fosse jornalista em virtude da minha facilidade em me comunicar. Hoje ele percebe que essa aptidão me ajudou muito na economia, profissão na qual a clareza, a objetividade e a didática não são habilidades muito comuns nos profissionais da área, mas essenciais.
Qual o maior desafio de sua carreira?
Há muitos desafios. Talvez o desafio mais contemporâneo seja o de separar análises técnicas de avaliações ideológico-partidárias. Muitas vezes, percebo que existe uma resistência de reconhecer um acerto de política econômica naqueles que não são alinhados do ponto de vista ideológico-político por parte dos analistas. Na minha opinião, isso é um erro grave.
Outro desafio importante é o de comunicar ideias. A ciência econômica não é algo simples. Uma análise bem feita exige uma avaliação profunda de uma série de variáveis que, muitas vezes, não são de conhecimento geral. Traduzir essas ideias para o grande público é um papel importante dos economistas.
Já houve um momento em que pensaste em desistir? Se sim nos conte como foi?
Nunca pensei em desistir. Há momentos, como na vida de todos, que tudo parece ficar mais difícil. Isso pode acontecer por várias motivações. Pode ser uma chefia desestimulante, a dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional. O importante é manter o foco nos seus objetivos de médio e longo prazo e construir alternativas para lidar com o presente e, principalmente, para alterar essa situação no futuro.
Se você não está feliz com a sua chefia e acredita que não vai mudar, procure um novo trabalho. Um ambiente de trabalho ruim vai minando a criatividade, seu ânimo e sua produtividade. Se o seu problema é conciliar vida profissional e pessoal: eleja prioridades e não se envergonhe das suas escolhas.
Qual foi a sua maior vitória profissional?
Ao final de 2016 foi escolhida como Economista do Ano no Rio Grande do Sul. Foram múltiplas pequenas vitórias cotidianas, construídas com estudo e empenho, que me levaram a esse título. Assim, o prêmio representou para mim um reconhecimento de toda uma trajetória de esforço e dedicação.
O universo da economia é predominantemente masculino, como é fazer parte deste ambiente?
Recentemente, fui agraciada pela Revista Donna, do Grupo RBS, com o prêmio “Mulheres que Inspiram”. Quando estávamos gravando o vídeo de divulgação disse que ser mulher num ambiente masculino pode ser um diferencial. Como na maioria das vezes você é a única, é praticamente inconfundível. Além disso, não se masculinizar, isto é, permanecer feminina é uma forma de se fortalecer, e não se fragilizar. Quando você está numa discussão, o que importa são suas ideias e não o seu gênero. E isso tem ficado cada vez mais claro nas organizações que querem se tornar mais inovadoras e eficientes.
Quais as dicas você deixa para as mulheres que vivenciam o mundo empresarial, ambiente ainda mais masculino. Como se sobressair a este cenário?
Não tenham receio de apresentar suas opiniões. Não se diminuam! Apresentem-se para as oportunidades se julgarem que são adequadas para você. Uma vez, numa conversa com a Sônia Hess, quando ela ainda era CEO da Dudalina, ela me contou que, por muitas vezes, quis contratar mulheres para posições de chefia.
Nas seleções, as mulheres se destacavam, apresentando qualificação e perfil mais adequado do que seus concorrentes homens. No entanto, quando eram escolhidas, a necessidade de uma agenda repleta de viagens ou de mudança de cidade apareciam como barreiras intransponíveis para o aceite. A maioria ficava presa às escolhas do marido ou à responsabilidade da vivência com os filhos. Acredito que cada pessoa deve ser dona de suas escolhas. Se você julga sua carreira importante, seu cônjuge e sua família como um todo precisam estar cientes disso. Existe muita cobrança das mulheres sobre elas mesmas, mas também por parte da sociedade, no que diz respeito, por exemplo, à presença cotidiana na vida dos filhos, especialmente quando são crianças. Se você quer ficar mais tempo em casa, ótimo se isso for uma escolha sua. Mas será muito ruim, para você e para sua família, se fizer escolhas porque simplesmente esperam isso de você.
Além disso, qualifiquem-se muito e sempre. Reconheçam suas habilidades e as fortaleçam. Verifiquem seus pontos fracos e trabalhem para que consigam atenuá-los.
Em uma frase, qual conselho você daria para as mulheres que são empreendedoras, empresarias, executivas…
Uma carreira se constrói sobre três pilares: qualificação, empenho e coragem! Nunca deixe que nenhum deles falte a você!